segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

ENTREVISTA COM PENELLOPE FOGOSA, A BONECA INFLÁVEL

IVAN S. – Boa tarde, Penellope. Muito obrigado, pela oportunidade. Vai ser um prazer penetrar fundo no outro lado de um assunto ainda tabú na nossa sociedade.

PENELLOPE FOGOSA – Obrigada, mas com prazer é mas caro (risos)! A verdade é que eu cansei de ser tratada como objeto sexual e decidi botar a boca no trombone.

IS – Hum! Isto me excita! Para começar, Penellope, eu preciso saber se te incomoda a atual desvalorização das bonecas infláveis.

PF – Incomoda e muito! Muitos homens acham que, só por que eu tenho o selo “made in Taiwan” eu não valho nada. E saem por aí dizendo: “ah, essa bonequinha não vale nada”! E não é bem por aí, eu tenho sentimentos, eu sou boneca inflável mas sou gente. Uns até me chamam de cabeça de vento.

IS – Bem, de certa forma isto é verdade, não é? Você não é exatamente feita de carne e osso!

PF – Eu sei, mas isto não dá direito a ninguém me agredir, de me ofender. Toda criatura merece respeito, seja fabricada no Paraguai, na China ou Taiwan. Seja loira, morena ou oriental.

IS – E na sua opinião a que se deve esta desvalorização?

PF – É que está tudo mais fácil para esta mulecada, Ivan. Antigamente os adolecentes tinham poucas opções para se aliviar, quem não tinha um pai rico que levasse numa zona de baixo meretricio que, por sinal, era muito caro, tinha que comprar uma revista de sacanagem e passar horas e horas no banheiro ou juntar uns amigos para comprar uma boneca. Pra você ver, até isso usurparam da gente. Antigamente, boneca era a inflável, hoje quando se fala em boneca já se pensa logo em Travesti! Mas, por direito, o título de boneca é nosso, das bonecas infláveis.

IS – Pensando por esse lado, é verdade!

PF – Tá vendo! Hoje, se você, abre o jornal tem garota oferecendo seus serviços sexuais por vinte, trinta reais. Ou pior: do que tem de piriguete por aí fazendo de tudo, de graça mesmo... quem vai desembolsar cento e cinquenta reais para comprar uma inflável? E fazem de tudo que você imaginar. Já as bonecas, tem limitações físicas, por que a gente não pode oferecer o que uma mulher de verdade oferece.

ISOk, tem garota oferecendo seus atributos por trinta reais, mas tem também garotas cobrando quatrocentos, quinhentos reais o programa, assim como já encontrei bonecas infláveis de quatrocentos reais.

PF – Hum, andou pesquisando, heim? Está Interessado é (risos)? Tem mesmo garotas cobrando quatrocentos reais pelo programa, assim como tem boneca inflável, as mais modernas, também neste valor. Algumas bonecas como a Real Doll, custam até cinco mil dolares. Estas, tem um formato rigorosamente humano e possibilitam ao usuário fazer de tudo. Tudo mesmo. Mas pense bem: com quatrocentos reais livres, quem você procuraria? Uma garota que pode retribuir aos seus estímulos ou uma boneca que na maioria das vezes fica parada, inerte?

IS – Pelo jeito que você fala, deve ser contrária a legalização da prostituição.

PF – Nada disso! Excetuando a prostituição infantil que é um crime absurdo, eu acho que as garotas de programa tem que ter seus direitos garantidos e respeitados. Só penso que a concorrência deve ser mais sadia, mas justa.

IS – Para uma boneca Inflável você tem um vocabulário muito bom, você fala muito bem!

PF – Isso já é um preconceito seu. Por que uma boneca inflável não pode falar bem?

IS – Bem, é que...

PF – Tudo bem (risos) foi só para te deixar encabulado! Eu realmente não falo muito, mas é por que não me dão oportunidade. Este é outro lado negativo de ser uma boneca inflável. Depois que somos usadas ninguém conversa com a gente, ninguém pergunta como estamos, como foi nosso dia ou o que achamos da atual política capitalista mundial. Não querem saber se a gente gosta de artes ou de filosofia. Ninguém chama a gente para jantar em um lugar romântico. É uma vida muito solitária mesmo.

IS – Falamos anteriormente dos tempos áureos das bonecas inflaveis, mas como se deu seu crescimento?

PF – Então, quando criança eu era uma linda e inocente Barbie que foi violentada pelo sádico irmão mais velho de minha dona. Fui crescendo e me tornei uma Suzi, depois uma Stephanie até que me tornei a Penellope que você conheceu.

IS – Sério?

PF – Mentira, seu bobo (risos)! Eu já nasci boneca inflável. Apesar da etiqueta “ made in Taiwan” a matéria-prima veio da Zona Franca de Manaus, por isso eu tenho raizes em Taiwan e no Brasil. Depois de montada, fiquei alguns anos vazia, dentro de uma armário, até que um tarado me encontrou e me encheu – em todos os sentidos – depois me vendeu para uma sex shop, foi lá onde a gente se conheceu e você me propôs a entrevista.

IS – Só não precisava dizer onde a gente se conheceu. Vai pegar mal pra mim (risos). Mas esta foi uma entrevista muito bacana, pelo menos para mim. A partir de agora tenho uma idéia completamente diferente de vocês, bonecas Infláveis. Quer mandar mais alguma mensagem para nossos leitores?

PF – Bem, queria dizer para vocês respeitarem as bonecas, pois apesar de caladas, também temos sentimentos. Queria dizer também para você, Ivan, que estou sempre sua disposição para tudo que quiser, tudinho. É só pedir que faço.

ISÔpa, não me comprometa! Mas aproveitando o ensejo, já ti convido para integrar nossa equipe, topas?

PF – Claro, tudo que você quiser, bebê!

IS – Então, esta foi nossa entrevista com a Penellope Fogosa, a boneca Inflável e sensível que espero ter te encantado com sua inteligência tanto quanto me encantou. Até a próxima matéria.

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